Texto por: Mariana Moreira
Se “Lobão tem razão”, como diz a música de Caetano Veloso do disco “Zii e zie”, não se sabe. A única certeza é de que o cantor causa polêmica independentemente da ocasião. E não foi diferente na tarde desta quinta-feira, na Bienal do Livro. De cara, como de costume, já afinou o som da conversa com os leitores no estande da Submarino e alfinetou grandes nomes, de Caetano a José Saramago. Cada opinião curiosa e despudorada do autor, provocava a simpatia de uns e a cara feia de outros que acompanham o bate-papo.
- Eu me dou a petulância de dizer que escrevo muito bem. Muito melhor do que o Caetano Veloso, por sinal. Saramago até sabe escrever bem, mas pensa errado. Eu detesto gente que é talentosa, mas não sabe pensar. Ele tinha inveja dos pobres, eu detesto isso. – disse o compositor que sabia que quando escrevesse, seria um best-seller.
A declaração sem falsa modéstia e a alfinetada no músico baiano foram feitas durante o bate sobre a autobiografia “50 anos a mil” (Ediouro), escrita em parceria com o jornalista Cláudio Tognolli e lançada no ano passado. O papo foi rápido, levou menos de meia hora, mas deu tempo suficiente para Lobão soltar o verbo.
No início e ainda com a fala mansa, revelou que, logo assim que saiu da cadeia, em 1987, muitas pessoas e familiares pediram a ele para que registrasse sua história em um livro. Mas o cantor achou necessário deixar o tempo passar, se livrar da contaminação dos sentimentos e se distanciar dos fatos para escrever com clareza as lembranças.
Apesar da aparente calmaria quando falou sobre o processo de produção de livro, o cantor não deixou de lado a fama de esquentadinho e seguiu com as palavras ácidas, principalmente ao de destilar críticas ao rock nacional.
- O rock no Brasil não existe. Aqui, na verdade, é um grande arraial agro-brega. A gente não tem verve para fazer rock’ roll e como cultura, o Brasil não está com nada e ainda acham o Chico Buarque o máximo – opina Lobão.
O cantor também não fez questão de agradar o público carioca que estava na feira e deixou claro que não suporta o malandro da Lapa, personagem do imaginário da boemia da cidade
- Eu não suporto essa coisa de samba de raiz, esses caras hippies que vão para Lapa ouvir chorinho medíocre.
Apesar de ter escrito um livro e ter planos de continuar se aventurando na literatura, Lobão disse que não se sente um personagem do meio literário, elogiou a obra do escritor Jorge Luís Borges – de quem é fã. Para fim de conversa, o cantor confirmou a soberba e declarou que não está nem aí para gastos e não se mostrou preocupado com os custos dos livros vendidos no Brasil.
- Eu quero mais que se f%¨$ esta m&*¨#. Quero o mais é que meu livro seja vendido com capa dura e letras de ouro, odeio quem nivela por baixo e esse complexo de inferioridade que as pessoas têm. Eu quero luxo.
Lobão, como sempre, surpreendendo em seus comentários cada vez mais ácidos. Mas ele sempre tem uma certa parcela de razão...
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